The Affliction (A Aflição)

The Affliction (by George Herbert)


When first thou didst entice to thee my heart,
I thought the service brave;
So many joys I writ down for my part,
Besides what I might have
Out of my stock of natural delights,
Augmented with thy gracious benefits.

I looked on thy furniture so fine,
And made it fine to me;
Thy glorious household-stuff did me entwine,
And 'tice me unto thee.
Such stars I counted mine: both heav'n and earth;
Paid me my wages in a world of mirth.

What pleasures could I want, whose King I serv'd,
Where joys my fellows were?
Thus argu'd into hopes, my thoughts reserv'd
No place for grief or fear.
Therefore my sudden soul caught at the place,
And made her youth and fierceness seek thy face.

At first thou gav'st me milk and sweetnesses;
I had my wish and way;
My days were straw'd with flow'rs and happiness;
There was no month but May.
But with my years sorrow did twist and grow,
And made a party unawares for woe.

My flesh began unto my soul in pain,
"Sicknesses cleave my bones;
Consuming agues dwell in ev'ry vein,
And tune my breath to groans."
Sorrow was all my soul; I scarce believ'd,
Till grief did tell me roundly, that I liv'd.

When I got health, thou took'st away my life,
And more, for my friends die;
My mirth and edge was lost, a blunted knife
Was of more use than I.
Thus thin and lean without a fence or friend,
I was blown through with ev'ry storm and wind.

Whereas my birth and spirit rather took
The way that takes the town;
Thou didst betray me to a ling'ring book,
And wrap me in a gown.
I was entangled in the world of strife,
Before I had the power to change my life.

Yet, for I threaten'd oft the siege to raise,
Not simp'ring all mine age,
Thou often didst with academic praise
Melt and dissolve my rage.
I took thy sweet'ned pill, till I came where
I could not go away, nor persevere.

Yet lest perchance I should too happy be
In my unhappiness,
Turning my purge to food, thou throwest me
Into more sicknesses.
Thus doth thy power cross-bias me, not making
Thine own gift good, yet me from my ways taking. 

Now I am here, what thou wilt do with me
None of my books will show;
I read, and sigh, and wish I were a tree,
For sure then I should grow
To fruit or shade: at least some bird would trust
Her household to me, and I should be just.

Yet, though thou troublest me, I must be meek;
In weakness must be stout;
Well, I will change the service, and go seek
Some other master out.
Ah my dear God! though I am clean forgot,
Let me not love thee, if I love thee not.
Quando tu primeiro atraíste para ti meu coração,
Achei valoroso o serviço;
Muitas alegrias escrevi com minha mão,
Além daquelas que poderia ter escrito
A partir de meu quinhão das delícias da natureza,
Aumentado o lote que foi, com seus amáveis gentilezas.
 
Olhei para tua tão fina mobília
E a tornei meu próprio bem;
A matéria de teu lar me envolveu como família
E de ti me fez sutil refém.
Tais estrelas contei como minhas: terra e firmamento
Pagaram meus salários num mundo de contentamento.

Que prazeres poderiam me faltar, se ao Rei deles eu servia,
Se ali eram minhas amigas as alegrias?
Meus pensamentos não deixavam dentro em mim, que 
esperançoso ia, 
Nenhum espaço para medos ou melancolias.
Assim minh’ alma logo encontrou lugar,
E mandou que suas mocidade e diligência fossem tua face 
procurar. 

De primeiro, tu me proveste com leite e doçuras;
Vontade e estrada, minhas deveras;
Meus dias varados foram por flores e venturas;
E quaisquer semanas eram primaveras.
Mas, com meus anos, a tristeza rodou e cresceu,
E acompanhou, sem saber, o desalento meu.

 
Minha carne veio, à minh’alma em pesar, se unir
Moléstias perpassam meus ossos;
Febres habitam cada veia, a me consumir,
E fazem gemidos de meus sopros.
Minh’ alma era só desconsolo; eu mal podia crer,
Até que a mágoa me confirmou: estava eu a viver. 
 
Quando tive saúde, tu levaste embora minha vida,
E mais, pois meus amigos a morte abateu;
Meu júbilo e viço apagaram-se, uma faca esmaecida
Era de mais utilidade do que eu.
Assim, fraco e delgado, sem amigo ou grade,
Fui soprado e arrastado em cada vento ou tempestade.


Enquanto eu tendia por espírito e nascimento
Para o caminho que a cidade forja;
Tu me atraiçoaste com um livro lento,
E me envolveste com uma toga.
Fui engolfado pelo mundo do lutar,
Antes que pudesse minha vida transmutar.


Assim, mesmo que por vezes eu ameaçasse violar o cerco,
Sem ver em minha idade motivo de incúria,
Tu, muitas vezes, por sob um elogio acadêmico
Derretestes e dissolvestes minha fúria.
Tomei tua adoçada pílula, até que vim a estar
Num lugar que não posso deixar, nem aqui perseverar.

Sim, talvez para evitar que muito feliz eu me tornasse
Em minha infelicidade,
Fazendo de minha purgação alimento, tu me jogaste
Para o coração de mais enfermidades.
Assim foi que teu poder me perfurou-formou, e, sem tornar
Teu brinde utilidade, meus caminhos ele não deixou de tomar.


Agora eu estou aqui, o que irás fazer de mim em pouco
Nenhum de meus livros é capaz de me mostrar;
Eu leio, suspiro e gostaria de ser um tronco,
Pois certamente assim iria desabrochar
Em fruta ou sombra: ao menos algum pássaro me confiaria
A mim sua morada, e correto meu ser existiria.

Assim, mesmo que você me atormente, manso ficarei;
E na fraqueza serei forte;
Sim, mudarei de serviço e procurarei
Algum outro mestre por sorte.
Ai, meu querido Deus! Embora esteja eu já todo esquecido
Não permita que eu te ame, se meu amor por ti não for infindo.

Por Francisco José L. Rocco

Nascido em Sâo Paulo, SP, em 05 de Março de 1953.